Os bancos europeus enfrentam hoje uma envolvente regulatória com o Basileia III e imposições de capital e liquidez absolutamente perversas para a concessão de crédito e para a economia.
O papel dos Bancos Centrais é fundamental na estabilidade financeira de um Estado. Têm uma missão clara. Mas o que se observa hoje é algo nunca antes visto.
Os principais Bancos Centrais passaram, nos últimos anos, a controlar, ou melhor, a manipular os mercados financeiros. Com um justificativo de evitar um possível cenário de deflação e com o objetivo de reverter essa tendência e aproximar o valor taxa de inflação a 2%, implementaram uma política monetária de taxas de juro 0 ou mesmo negativas e o Quantitative Easing (QE).
Estas políticas monetárias implicaram uma sobrevalorização generalizada dos ativos financeiros, como consequência dos investidores procurarem retornos em ativos de elevado risco que hoje já não conseguem obter em ativos de menor risco.
Neste artigo gostaria de evidenciar que há outra consequência desastrosa destas políticas monetárias implementadas pelos principais Bancos Centrais. Além de não terem atingido o seu objetivo principal, ou seja, aproximar a taxa de inflação a 2%, não ajudaram, certamente, no crescimento econômico. Bem pelo contrário, afirmaria mesmo que a estagnação ou fraco crescimento das principais economias é o resultado das políticas monetárias implementadas pelos seus Bancos Centrais.
Ao contrário do que se pensa, estas políticas monetárias não estimulam as economias, antes distorcem os mercados de crédito, visto a brutal injeção de capital barato verificada nos últimos anos só beneficiar os players que têm acesso aos mercados obrigacionistas. Assim, as políticas de QE fornecem crédito fácil e barato aos Estados e às grandes empresas, mas não chegam às pequenas e médias empresas (PME) ou às startups, que são absolutamente essenciais na inovação e criação de emprego e, portanto no crescimento econômico.
Note que na Europa as PME, que criam 85% dos postos de trabalho, são financiadas a 100% pelos bancos europeus, ao contrário, por exemplo, do que acontece nos EUA, onde 70% das empresas se financiam nos mercados de capitais.
Os bancos europeus enfrentam hoje uma envolvente regulatória com o Basileia III e imposições de capital e liquidez absolutamente perversas para a concessão de crédito e para a economia, que em conjunto com as taxas de juro de referência baixas implicam uma redução dos seus proveitos e uma aversão à concessão de crédito de maior risco, ou seja, aversão à concessão de crédito às PME ou às startups. Assim, as PME, que são o motor do crescimento econômico, têm hoje mais dificuldade em se financiar e desenvolver.
Estas drásticas e fortes políticas monetárias permitiram, também, que os Governos adoptassem uma postura de “wait and see” e não implementassem as reformas estruturais tão necessárias para o crescimento económico e que, agora, os próprios Bancos Centrais reclamam que sejam feitas, visto começarem a concluir que as políticas que implementaram não são suficientes para atingir os objetivos propostos sem adequadas reformas, nomeadamente reformas que eliminem ou reduzam a excessiva tributação, regulação e gastos públicos.
Destaco, por fim, que nunca anteriormente se comprovou que o controle das taxas de juros, isto é, a manipulação de preços, implique maior crescimento econômico. Bem pelo contrário.