Num ano marcado pela subida do dólar e pela queda das matérias-primas, as bolsas conseguiram retornos moderados.
O ano de 2015 trouxe ganhos moderados para os investidores em acções, principalmente se tiverem o euro como moeda de referência. O andamento dos mercados mundiais esteve dependente dos impactos da divergência da política monetária da Fed e do BCE e do tombo dos preços das matérias-primas, que foi essencial para fazer a diferença entre estratégias de investimento ganhadoras ou perdedoras
Quatro ações europeias que conseguiram duplicar de valor
O índice que agrupa as 600 cotadas mais representativas do Velho
Continente consegue uma subida de 6% este ano, encaminhando-se para o
quarto ano consecutivo de ganhos. Isto apesar de estar a negociar 12%
abaixo do máximo do ano, atingido em Abril. Ainda assim, houve quatro
cotadas que conseguiram duplicar de valor este ano. A biotecnológica
dinamarquesa Genmab, que investiga novas terapêuticas para o cancro, é a
que mais sobe. As ações valorizam 160% em 2015. Além desta empresa,
também a espanhola Gamesa mais que duplicou de valor, com uma subida de
11%. A casa de apostas britânica Betfair e a fabricante de equipamento
de energias renováveis dinamarquesa Vestas são as outras cotadas a
ganhar mais de 100%. O reverso da medalha é o National Bank of Greece,
com as acções a derrocarem 98,4%. Já a seguradora holandesa Delta Lloyd e
as empresas mineiras Anglo American e Glencore perdem mais de 70%.
Estas últimas foram penalizadas pela descida significativa dos preços
das matérias-primas.
Em relação a geografias, as bolsas
dinamarquesa e irlandesa foram as mais rentáveis, com subidas de 32% e
28%, respectivamente. Já a praça de Atenas foi a mais fustigada com uma
descida superior a 30%. A bolsa espanhola é também das poucas na Europa
que não consegue ganhos, com uma descida de 4,75%. Já Frankfurt e Paris
ganham cerca de 8%, enquanto Londres está praticamente inalterada.
Bolsa dos EUA estagnada em dólares, com ganhos em euros
Um
dos principais índices do mercado bolsista norte-americano, o S&P
500, está estagnado em relação ao valor de fecho do ano passado. No
entanto, ajustando o retorno do índice para euros, as ações
norte-americanas conseguem ganhos superiores a 10%, beneficiando da
valorização do dólar. Ajustando os retornos para euros, há três acções
que duplicaram de valor: a Netflix, a Amazon e a Activision Blizzard. Do
lado oposto, cotadas ligados ao setor energético, como a Chesapeake
Energy e a Southwern Energy perderam mais de 70%.
Japão em destaque pela positiva. Brasil desilude
O efeito
dólar também se refletiu no índice da Bloomberg que mede o desempenho
das bolsas mundiais. O Bloomberg World ganha 6,8%, mas para os
investidores em dólares teve um retorno negativo de 3,3%. A pesar no
desempenho das bolsas mundiais estiveram a estagnação das ações
norte-americanas e as descidas de alguns mercados emergentes dependentes
da evolução das matérias-primas. O Brasil é um desses exemplos, com a
bolsa a tombar 30%, ajustando para euros, em 2015. Na Ásia também houve
surpresas negativas, alimentadas pela incerteza na China. O índice de
Hong Kong, por exemplo, cede quase 13%. Já as ações japonesas conseguem
um dos melhores desempenhos do ano, com o Nikkei a ganhar, em euros,
19%.
Matérias-primas em queda livre
Uma das
explicações para os desempenhos setoriais das bolsas, em que as cotadas
ligadas à energia e aos recursos naturais estão, quase sempre, entre as
que mais perdem em 2015 tem a ver com o mercado de matérias-primas. As
principais mercadorias perderam valor durante o ano, com o excesso de
oferta, as preocupações sobre a procura chinesa e outros fatores a
afetarem as principais matérias-primas. O petróleo perdeu 30% do valor
desde o início do ano (cerca de 22% ajustando a evolução para euros),
com a OPEPa resistir a cortar a produção como estratégia para defender
quota de mercado. Mercadorias industriais como o cobre também perderam
quase 30%, enquanto o alumínio perdeu 20%. Os baixos preços das
matérias-primas, principalmente do petróleo, têm provocado taxas de
inflação baixas nas maiores economias do mundo, fator que poderá ter
tirado algum do brilho a metais preciosos como o ouro e a prata, que têm
descidas de cerca de 10% este ano.
O ano do dólar
É algo raro. As políticas
monetárias de dois grandes blocos econômicos têm sentido divergente.
Enquanto nos EUA, a Reserva Federal está em modo de preparação para a
subida das taxas de juro, na zona euro o BCE anunciou este mês uma
maior dose de estímulos monetários. Resultado, a nota verde consegue
valorizar mais de 10% face à moeda única. O franco suíço ganha mais de
11% face ao euro, conseguidos à custa da decisão do banco central
helvético de deixar de ligar a cotação da sua divisa à moeda única.
Apesar da fraqueza do euro, algumas moedas de economias dependentes da
exportação de matérias-primas tiveram ainda um comportamento ainda mais
negativo. Foi o caso do dólar canadiano e da coroa norueguesa, por
exemplo.