Carlos Tavares: "Mercado de capitais vive o momento mais difícil dos últimos 30 anos"

10 março 2015, 23:15
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O presidente da CMVM considera que as OPAs que não vingaram são um dos exemplos de factores que conduziram o mercado a este momento difícil.

Na conferência de apresentação do projecto sobre Custo de Capital na Bolsa Portuguesa, Carlos Tavares referiu, como uma das limitações ao funcionamento do mercado, as ofertas públicas de aquisição (OPA) que "acabaram por não chegar ao mercado fruto da intervenção de alguns accionistas mais poderosos". 

As declarações do presidente da CMVM surgem num momento de incerteza sobre o futuro do BPI. O CaixaBank lançou dia 17 de Fevereiro uma OPA sobre o banco,oferecendo 1,329 euros por acção, preço reiterado esta sexta-feira pelo banco espanhol. 

Isabel dos Santos, a segunda maior accionista do BPI, recusou, entretanto, a OPA do CaixaBank e apelou a que o BPI analise uma eventual fusão com o BCP. A CMVM anunciou entretanto que está a analisar se a divulgação da proposta para conversações com vista a uma eventual fusão pela Santoro, através dos media, infringiu as regras do Código dos Valores Mobiliários (CVM). 

Segundo Carlos Tavares, vivemos "o momento mais difícil do mercado de capitais dos últimos trinta anos". "Nos últimos anos, o mercado perdeu emitentes, investidores, volume, mas perdeu sobretudo confiança", elemento essencial em que assenta o mercado, disse o presidente da CMVM. 

Para esta situação contribuíram os casos das grandes cotadas no PSI-20 - nomeadamente do BES, PT, BCP, Brisa - que diminuíram a confiança dos investidores, e também de empresas mais pequenas que "foram demasiado ambiciosas quando entraram na bolsa", com preços muito altos e "que infligiram rapidamente perdas muito significativas aos investidores", relembrou. 

Contribuíram ainda limitações do próprio mercado, acrescentou Carlos Tavares, como o caso das OPAs que não vingaram devido à intervenção de grandes accionistas; a perda de credibilidade suscitada pelo "menor respeito pelo direito dos accionistas minoritários"; e "alguma irracionalidade nos preços". 

Por outro lado, "a base de investidores doméstica foi-se estreitando bastante com a redução da dimensão dos fundos de investimento e o desaparecimento dos investidores mais estáveis" como os fundos de pensão da banca que foram absorvidos pela Segurança Social.    

As empresas em Portugal "necessitam criticamente do mercado de capitais para se financiarem, para crescer", realçou ainda Carlos Tavares, após a apresentação do projecto de investigação, financiado pela Fundação de Ciência e Tecnologia (FCT), sobre a bolsa de valores portuguesa no século XX. 

O estudo conduzido por professores da Universidade Nova de Lisboa, em parceria com a Euronext Lisboa, concluiu que "o investimento em acções, a longo prazo remunera mais que outros investimentos" como dívida. Esta tem uma remuneração média de 5,9% face aos 12,7% do investimento em acções, segundo os cálculos dos investigadores, que estão a analisar a evolução da bolsa portuguesa desde 1900.  

( notícia do jornaldenegocios datado de 10 de Março de 2015 ) 

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