Fed mantém juros inalterados e reduz perspectiva de novos aumentos

Fed mantém juros inalterados e reduz perspectiva de novos aumentos

16 junho 2016, 21:19
acm
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O Federal Reserve (Fed) manteve sua taxa de juros de curto prazo no mesmo patamar e reduziu as projeções de quanto vai elevá-la nos próximos anos. São sinais de que a lentidão persistente da economia dos Estados Unidos e a inflação baixa estão forçando o banco central a repensar o ritmo da alta de juros.

“Estamos muito incertos sobre para onde os juros irão no longo prazo”, disse a presidente do Fed, Janet Yellen, na coletiva de imprensa realizada após a reunião de política monetária do banco central americano, que durou dois dias.

As novas projeções mostram que os dirigentes do Fed esperam que a chamada taxa dos fundos federais suba para 0,875% ao ano até o fim de 2016, segundo a mediana das estimativas dos 17 membros do comitê de política monetária. Suas previsões indicam que eles contam com dois aumentos de juros neste ano. É o mesmo número de altas que eles estimaram na projeção anterior, divulgada em março. Um maior número de dirigentes, entretanto, agora estima apenas um aumento no ano, em vez de dois. Em março, apenas uma autoridade acreditava em um aumento neste ano e sete apostavam em três ou mais. Agora, seis dirigentes veem um aumento neste ano e apenas dois estimam três ou mais.

Yellen disse que um aumento nos juros na próxima reunião do Fed, em julho, “não é impossível”, mas que não sabe com que rapidez as autoridades ganharão confiança na força da economia. “Nós precisamos ter certeza de que o impulso subjacente da economia não diminuiu”, disse ela.

O banco central também estima que as taxas dos fundos federais atinjam 1,625% ao ano no fim de 2017 e 2,375% no fim de 2018, menor que as projeções trimestrais oficiais divulgadas em março. Há três meses, a mediana das estimativas para os juros em 2018 era de 3% ao ano. No longo prazo, o Fed estima que sua taxa referencial atinja os 3%, ante uma previsão de 3,25% feita em março.

Essas estimativas não estão gravadas em pedra, mas elas indicam como a visão das autoridades está mudando. O Fed não vê mais os juros subindo como antes e alongou o prazo para atingir a meta que seus dirigentes têm em mente.

“Os recentes indicadores econômicos têm sido indefinidos, indicando que nossa abordagem cautelosa no ajuste da política monetária continua apropriada”, disse Yellen.

O referendo do Reino Unido, que vai decidir, em 23 de junho, se o país vai permanecer ou não na União Europeia, também foi um fator para a decisão dos dirigentes do Fed de não mexer nos juros e “claramente poderá ter consequências” para a economia e para os mercados financeiros globais, disse Yellen. “Se for assim, também poderia haver consequências para o cenário econômico dos EUA, o que seria um fator na decisão sobre a trajetória adequada da política” monetária, disse ela.

Em seu comunicado oficial divulgado após a reunião, os dirigentes repetiram o refrão, usado durante todo o ano, de que esperam “que as condições econômicas vão evoluir de uma forma que justifique apenas aumentos graduais nas taxas dos fundos federais”.

Em dezembro, o Fed elevou seus juros referenciais de zero para entre 0,25% e 0,5% ao ano.

Até o momento, a economia e os mercados financeiros não têm cooperado com os planos de continuar aumentando os juros. No início do ano, turbulência nos mercados e o fraco crescimento da produção econômica nos EUA levaram o Fed a fazer uma pausa. O crescimento parece ter voltado e os mercados se acalmaram, mas agora são os dados de geração de novos empregos e a inflação baixa que preocupam as autoridades.

“O ritmo das melhorias no mercado de trabalho diminuiu, enquanto o crescimento da atividade econômica parece que voltou a crescer”, afirmou o Fed. Embora os gastos dos consumidores tenham ganhado fôlego, o investimento das empresas está fraco. Ao mesmo tempo, os indicadores do mercado para as expectativas de inflação têm caído, informa o Fed, o que a presidente, no início deste mês, disse ser preocupante.

O tom do comunicado oficial do Fed e suas projeções sugerem que seus dirigentes vão precisar ver uma recuperação rápida nos dados econômicos e evidências da resistência do mercado, antes de acelerar o passo.

O Fed indicou que sua visão dos riscos para a economia não mudaram desde abril. Os dirigentes continuam dizendo que “vão monitorar de perto” os indicadores de inflação e os eventos econômicos e financeiros globais, o que não é uma aprovação muito decidida do cenário atual. Em momentos de mais confiança, como em dezembro, quando o Fed elevou os juros de curto prazo em 0,25 ponto percentual, a instituição afirmou que os riscos para a economia estavam equilibrados.

O banco central reduziu ligeiramente sua estimada expansão da produção econômica dos EUA para este ano, dos 2,2% projetados em março para 2%. O Fed também reduziu sua projeção de crescimento para 2017, de 2,1% para 2%. Ao mesmo tempo, o banco elevou a estimativa de inflação para o ano, de 1,2% para 1,4%, mas manteve a maioria das demais projeções estável. A combinação de projeções econômicas relativamente estáveis e um cenário de juros menores indica que as autoridades estão lentamente chegando à conclusão de que a economia simplesmente não aguenta juros muito elevados, mesmo para alcançar um crescimento medíocre com inflação baixa.

Yellen tem dito que obstáculos estão segurando a economia. Pode ser que esses obstáculos estejam durando mais tempo do que ela esperava ou novas dificuldades estejam surgindo, como a desaceleração econômica da China. Os dirigentes do Fed também têm ponderado se os juros de equilíbrio da economia — a taxa em que a economia fica em equilíbrio, com uma inflação estável e um desemprego baixo — vêm caindo por causa de tendências duradouras, além do controle do Fed, que estejam emperrando o crescimento, como a aposentadoria de trabalhadores e o baixo crescimento da produtividade.

No mês passado, as autoridades do Fed pareciam decididas a elevar os juros em junho ou julho. Yellen disse, no fim de maio, que uma mudança era provável “nos próximos meses” se a economia continuasse se fortalecendo.

A decisão de não elevar os juros ontem, contudo, foi tomada depois de comentários mais recentes de Yellen de que os dirigentes do Fed querem aguardar mais garantias de que a queda na geração de novos empregos não é um prenúncio de fraqueza na economia em geral.

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